sábado, 4 de outubro de 2008

De sandálias nas mãos te esperamos...


...aos meus irmãos alianças... também - como diz minha amiga Angêla - aos "freiros" e freiras, e a todos filhos gerados por Pe. Gilsom Sobreiro, nosso pai tão amado!

Hoje quero dedicar a eternidade das belas palavras ao meu pai seráfico, ao pastor das almas tão feridas, ao Francisco relutante. Quem não se deixa seduzir pelo Cristo de hábito marrom, de olhar zeloso, penetrante e envolvente?

Meus irmãos ousaram um encontro pessoal com ele, e isso me fez pensar por que nunca pude ir também ao seu encontro. Carrego um amor sem explicação ou lógica humana. Perguntei a uma criança por que tanto amor no coração por seus pais. Docilmente me vi diante do mais belo silêncio que se pode testemunhar. Não existe resposta ao que é puro. Só uma criança poderia traduzir o que sente a alma durante um encontro de amor, e mesmo ela guardando a resposta, não saberia como revelá-la.

Meu mistério de amor se reproduz na cena de um filho que, ao saber que o pai logo voltará, corre com toda euforia em busca das sandálias do seu herói e ansiosamente o espera para calçá-lo depois de uma temporada de trabalho exaustivo.

Sou uma criança de vinte e quatro anos que espera o pai em prontidão, de olhar fixo no horizonte! Meus irmãos foram ao seu encontro, mas preferi ficar em casa de mãos dadas com minha mãe. Peguei suas sandálias em minhas mãos, para ter o prazer de calçá-lo e vê-lo descansar. Sou a criança que decididamente, enquanto o pai dorme, rouba suas sandálias e as esconde, na esperança ingênua de não haver mais despedidas.

O amor é o belo rito de esconder os calçados de quem amamos para não vê-los partir, mesmo com um adeus tão próximo e muitas vezes inevitável. O amor é também revelar nossos esconderijos secretos, e devolver as sandálias que não nos pertencem. O amor deixa ser livre, não prende para si. É sempre fácil admitir que despedidas sejam necessárias, porém, talvez nunca alguém entenda o choro silencioso da triste separação.

Critiquem minha visão infantil do que talvez possa ser um simples encontro com alguém tão mais simples. Rasguem minhas supostas palavras grosseiramente metafóricas, mas não me tirem o direito de calçar minhas mãos com as sandálias de quem tanto esperei. Não me tirem o prazer de esconder seus calçados para não vê-lo partir. Não busquem pistas ou rastros dos meus esconderijos secretos, nem enxuguem minhas lágrimas ao sentir que o triste momento de dizer adeus está próximo!

Não me façam entender que tudo isso seja necessário! Não quero!
No momento da partida, desejo chorar minhas lágrimas com o olhar fixo em seus passos cada vez mais distantes! Quero perceber que não cresci tanto assim ao calçar suas sandálias maiores que meus pés!

Enfim, quero perdê-lo de vista recostado na cintura de minha mãe e lembrar o que ainda é recente na memória. Quero sentir em meus cabelos os dedos maternos que consolam da dor profunda, no silêncio que diz: “filho, logo. . . logo logo ele vai voltar”

Imagem: Pe. Gilsom Sobreiro, Fundador da Fraternidade Missionaria O Caminho; com ele, Ângela e Eliane, membros de aliança.