sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Recordar é SENTIR!



Neste dia tão meu... aos meus 76 anos.

Somente a boa lembrança me faz mais próximo de quem amo. Nem mesmo a saudade é mais forte que esses momentos recheados de imortalidade, partilhados generosamente. São retalhos de lembranças que compõem o que é nostálgico em mim, essa beleza de ter pertencido a alguém, a beleza que me convida à felicidade e que não encontra em mim resistência alguma.

Somos metades que, embora distintas, fazem parte de um mesmo universo. Somos metades que se completam na particularidade do que se faz novo a cada momento. Somos metades que registram lembranças no vazio que há em nós, certamente a ausência que temos do objeto que nos completa. Somos metades desejosas de um tempo ao revés, na busca incansável de reaver o que já não temos e, sem perder mais tempo, gozar das coisas que ainda estão por vir. Metades se tornam “um” pelo desejo de uma vez mais...

Tudo o que é eternizado na alma passa pela experiência do “mais uma vez...”. Acredito num mundo onde recordar não significa necessariamente sofrer. O conforto da velhice mora justamente nos signos adquiridos pelas experiências em vida. A memória dos velhos é um lugar cheio de saudades... daí minha ousadia ao admitir meus 76 anos vividos... é o que trago de mais insano, admito, mas encaro isso como um desafio aos paradigmas deste mundo.

A figura de um velho tem um ganho especial de eternidade. Sim, suas memórias dão sentido às histórias que não mais são, que ainda resistem ao tempo sob a forma de imagens incorrutíveis, auto-sustentáveis.

Eternidade é na verdade a lembrança que desassossega a alma por ser ela parte do lugar ao qual se quer voltar. Não sou um velho(ainda), mas me sinto como um. Sou um ser dotado de uma nostalgia sem fim.

Só a saudade eterniza as pessoas e os momentos que não queremos ver partir.
Imagem: Rubem Alves.

domingo, 6 de setembro de 2009

Sentir . . .


Às amizades constantemente fiéis aos sentimentos... por toda inspiração.

É na lealdade aos sentimentos oferecidos que descobrimos o que a felicidade traz de tão impressionante à figura humana, especilamente às amizades que tecemos. Com o coração altruísta, que escreve suas histórias com peso do próprio sangue, descobrimos o valor dos sentimentos que o bixo-homem insiste em selar com preconceitos repugnantes. É presunção pensar que a felicidade deve ser alcançada e aprisionada a qualquer custo, quando na verdade gozar de um sofrimento mínimo é um privilégio gigantesco para poucos que sabem saboreá-lo.

Os sentimentos se tornam ainda mais humanos quando sujeitados aos momentos imprevisíveis, o que me faz questionar os segredos da vida quando dois amigos sentem o mesmo um pelo outro antes mesmo de se conhecerem. Talvez essa resposta venha por conseqüência de tantas outras. Talvez a amizade verdadeira seja imortalizada por esses momentos inusitados, com pessoas inesperadas, de sentimentos constantes e de uma forma surpreendente.

Sou fascinado pela idéia da descoberta, de ser o primeiro a me enxergar nas amizades construídas sem o fardo de um mundo cheio de pressa e responsabilidade, um mundo sem tempo para os sentimentos humanos. E são nas amizades recém-nascidas que o tal bixo-homem pode reaver o gosto pelas causas humanas, justamente porque suas histórias ainda não foram escritas.

. . . viver o inusitado que o dia nos impõe . . . narrar belas histórias de fidelidade às causas do coração nas páginas escritas em vermelho: o sangue que traduz o sofrimento para muitos ainda tão alheio, sentimento merecedor de atenção, tão humano como outro qualquer.

Foto: Amanda e Emanuelle.