sábado, 21 de março de 2009

O trágico sem-palavras, minha inspiração.



Para que Deus me castigue basta tirar-me a inspiração, assim Ele tem o prazer me ver contrariá-lo amorosamente.

Esse é um dos muitos mistérios que me compõem. Chego a pensar nos motivos das minhas abstinências literárias. Escrever para mim é cantar com palavras, é retratar os sentimentos que nascem sob a realidade do instante.

Parto do princípio de que toda a inspiração é obra e obreiro que desconhecemos. Albert Einstein chamou suas inspirações de “estalos” (eureca), atribuindo-as a um senso intuitivo. Eu prefiro defini-la como o assalto à ociosidade da alma para dar beleza e sentido ao incomum.

O que me veta os olhos da alma me faz amar a tragédia(nome que dou à beleza do efêmero). Um poeta sem palavras é a tragédia que faz nascer “estalos” que contradizem sua própria imagem. Aí mora o sentido de que as coisas imperfeitas têm seu valor perante o sofrimento. Minhas tragédias... quem ousaria entendê-las?

O instante trágico da vida é engravidar dos seus mistérios e aceitar o silêncio como única inspiração. Descobri ser mais feliz que a tantas mulheres “grávidas de primeira viagem”. Embora não gere filhos de carne, a vida tem me fecundado para dar ao mundo o fruto do assalto e da tragédia. Engravidar é um exercício de felicidade.

Por outro lado, com o perdão dos leitores conservadores, os últimos tempos têm sido para um tipo de aborto especial. O fruto que esperava não era legitimamente um fruto da vida. Fico a pensar se a Igreja julgaria tal ato como próprio para excomunhão, mas infelizmente o cânon católico não faz alusões sobre os “engravidados pela vida”, já que se trata de um caso que foge às discussões sobre ética e respeito humano.

A idéia de um amor interrompido me fascina pela sua condição de tragédia. Somente os poetas entenderiam o que se passa na alma de uma mãe quando, certa do que fez, sangra de saudades por um filho que não vai conhecer.

Sou o trágico sem-palavras, a inspiração de mim mesmo...
Sou um poeta e sua imagem imperfeita, desfocada, encantadora.
Sou o verbo sem ação, a palavra sem sentido.

Sou mãe cheia de leite, sem filhos para amamentar...
Sou mãe que faz ninar, que embala em seus braços o vazio, a sorrir diante do nada.
Sou mãe fascinantemente sem brilho, que busca a razão de ter negado, que deseja o não acontecido, sob as lembranças de um filho que poderia. . . poderia ter sido.
Imagem: Net.

Um comentário:

Adriannno disse...

Muito massa mano... Talvez seja a tragedia a melhor forma de engravidar a mente dos grande poetas...

Abração