Ao meu velho cheio de sabedoria...
Bom ser humano que transforma o imperfeito em figura venerável, que profana o sagrado e cultua a carne que sangra e faz sangrar. Só o precipício traz a façanha de laços estreitos entre o homem e a própria humanidade. Não existe pecado na morte conselheira, nem medo diante do seu silêncio. O ser mais temido da história é capaz de regenerar o homem desposado de toda segurança.
Bom construir altares mesmo aos 76 anos. Em meu altar particular, o velho sábio ainda dita suas regras incomuns e sob o molde da loucura dá voz ao passado que insiste ser real. Parece gozar do infinito enquanto espera sua morte cheia esplendor; sabe do mundo e seu eterno estado crepuscular, certo de que o amanha sempre virá(que presunção).
A noite escura reduz a nada a falsa segurança, prova que existência por si só é tão volátil quanto à fumaça que se desfaz pelo ar. A noite escura vem devagar e traz a lembrança assustadora do tempo sempre soberano. A noite escura é isenta de malícia, foge do senso comum e do preconceito de mortais que enxergam apenas seu instrumento de dor. Ao contrário, em seu toque também existe glória, sim, a glória da reconciliação, do fascínio pelo perdido... a glória de tesouros que escorrem pelas mãos.
Bom ser este misto de insanidade sem o infortúnio da preocupação. De alteres intransponíveis a delicados castelos de mim. O melhor refúgio está em suas cúpulas de cristais justamente por serem tão frágeis à dor. Nelas estão guardadas as lembranças que compõem o velho de cabelos brancos e pele enrugada à espera da morte amiga, descobrindo o valor do que é ausente nas oportunidades inusitadas. Talvez seja este o momento exato para refazer suas histórias... do triste “adeus” ao “ainda estou aqui.”
Vivo de altares e em castelos vazios à espera de um milagre imperfeito que me traga devaneios. No altar da minha imperfeição, as crianças, sacerdotes do instante, realizam seus rituais de inocência sem regras: transformam o absurdo em brincadeira; em meus castelos ínfimos, nenhuma lágrima traz a comoção pela figura de um velho que muito sofreu, pouco amou e nada cresceu. A loucura é o sustento dos sábios.
Amar o imperfeito é ser o velho sábio e sua imagem infantil, a criança que venera a carne viciosa da própria mãe.
Quem goza do imperfeito também ama com perfeição.
9 comentários:
"a loucura é o sustento dos sábios"
"Quem goza do imperfeito também ama com perfeição"
Gostei muito!
beijos
- Lido e apreciado, amigo!
Parabéns!
"Vivo de altares e em castelos vazios à espera de um milagre imperfeito que me traga devaneios.."
Gosto como escreve..
Parabéns
Oii... vi um rosto diferente me seguindo.. rsrs Vim agradecer e encontrei um blog muito legal... estou acompanhando. Até =)
Oi Dimes!
Obrigada por visitar meu Blog! Apareça sempre!
Beijos
Nossa, muito legal mesmo seu blog *-*
Gostei muito da postagem
Beijos
muito massa..
sempre soube da sua sapiencia,mas nunca havia provado..e estou satisfeita e muito orgulhosa.. =D
Loucura mesmo hein ?
abraço !
Viajei nas linhas do imaginário, que velho sábio imperfeito.
Lhe saúdo com o liguajar do jovem maranhense; muito massa brother !
Abração
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